Residência, 2017

Residência artística sobre gravura, com o apoio técnico de Tomás Dias a convite da Bienal de Arte Contemporânea da Maia, com a curadoria de Constança Araújo Amador.

Artistic residency on engraving, with the technical support of Tomás Dias invited by the Contemporary Art Biennial of Maia, curated by Constança Araújo Amador.

“A cidade da Maia, enquanto espaço físico e social, apresentava-se como um elemento multifacetado, sobre o qual recai necessariamente um olhar interpretativo. Essa interpretação é, muitas vezes, tão ambígua e variada quanto o números de pessoas que à volta dela orbita. Essas diferenças são acentuadas pelas vivências ou não vivências do espaço e pelas relações, empatias e hábitos que a partir dele são criados. O olhar forma/deforma aquilo que é apresentado como objeto arquitetónico, no que poderíamos dizer ser uma metamorfose interpretativa, pessoal e única. Vemos assim as cidades e os territórios serem pensados e construídos segundo duas dimensões que se aproximam no seu ponto mais oposto: a nossa singularidade enquanto corpo e a nossa pluralidade enquanto sociedade. É sobre esse prisma que “Corpo e Arquitetura” olha esta relação, relação essa que molda a paisagem da Maia através de formas arquitetónicas que constroem hábitos, vivências e experiências para definir e redefinir como a pensamos e como a vemos como “cidade”. Os dez trabalhos desenvolvidos e concebidos por artistas e alumni do Mestrado em Técnicas de Impressão da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto procuraram explorar precisamente essa relação entre o “eu” e o objeto “cidade”. Focando-se na maioria sobre o Fórum da Maia, concebido pelo arquiteto João Álvaro Rocha, e na zona envolvente da Câmara Municipal da Maia, trouxeram pontos de vista que foram influenciados pelos mais diversos fatores sendo que, o que mais se destacaria, seria a relação ou a inexistência da mesma com o espaço físico em causa. Esses fatores refletem-se em abordagens mais ou menos literais em que, muitas vezes, a forma mostra um corpo arquitetónico e, noutros casos, a forma espelha uma sensação ou vivência. Esta relação entre o artista e a forma é ainda mais “forçada” pelo próprio processo de produção das suas obras. Os limites impostos pela técnica surgem como terceiro elemento nesta relação interpretativa. Este ponto foi essencial também para o que seria uma intenção de desenvolvimento artístico, em que os artistas convidados teriam que ter em consideração uma técnica de reprodução da própria obra. Vemos assim que as abordagens visuais são “condicionadas” pela técnica, mas que as mesmas são transpostas de diferentes formas em dois momentos distintos: no momento de criação da obra, em que alguns dos artistas trabalharam diretamente sobre as matrizes e no momento expositivo em que a forma como apresentam a obra foge ao que seria o esquema dito mais “clássico”. Numa colaboração com o mestre impressor Tomás Dias e através da exploração de técnicas como o linóleo, a serigrafia e a gravura, os corpos ganharam formas que são espelho do espaço temporal da criação das mesmas. Vemos assim obras que se aproximam mais de um retrato sensitivo do que propriamente de um retrato paisagístico. A carga emocional e emotiva sobrepõe-se em muito ao que são as linhas e formas físicas do espaço/objeto retratado. É aí que descobrimos uma nova cidade e percebemos que o corpo e a arquitetura se fundem e preenchem um local que nunca é fisicamente estático.”

— Constança Araújo Amador